quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Não sei para que servem as pernas, a vida toda usei-as para bailar e receber apontamentos nos tecidos adiposos tão temidos. Hoje quando não estão na horizontal, estão caminhando de forma ligeira para um objetivo, não sabe-se qual. Minhas pernas negras de ziguezaguear na rua dia após dia atrás de um objetivo que valha a pena só me fazem pensar no por quê, e nesses por quês da vida caí bem fundo, eu não queria mãos para me puxar para as ruas novamente, sou menina criada pelos avós, classe média, frustrações por causa leve, de menina mimada, nata, não gosto de rua e não fui preparada para coisa alguma e por isso ainda não sei a função das minhas pernas, de repente estou no ônibus, metrô, não temos vagas, ônibus, pessoas, volte amanhã. A vida adulta me pegou no sopro das velas, documentos, papeladas, emprego. De repente, percebo o aluguel a altura dos ministros, entendo a crise econômica, ou tento entender, quem me dera conseguir passar por tudo isso sem um arranhão, já tenho coleções de topadas, ignoradas e ralações no joelho. Tudo isso que você provavelmente nem sabe o que é, eu nem ao menos disse, não disse que enquanto caminhava com as minhas pernas negras atrás de um objetivo falho fui atropelada por carros, pessoas e olhares, lágrimas escorreram levando toda a tentativa de parecer acordada após um sorriso antes de não temos vagas, o medo de não conseguir nem ao menos começar, é mais forte que minha vontade de prosseguir, fui dos planos de sonho de menina criada pela avó ao crime simples de tentar vender todos os docinhos na frente da escola. Minhas pernas entram na areia movediça da questão, estão caminhando automaticamente, sem parar, paradas. Estou no piloto automático até mesmo escrevendo isto, continuo não querendo mãos salvadoras, estou conformada com a instabilidade nos pés, com as bolhas que dessa vez não nasceram por conta das sapatilhas.

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