domingo, 26 de outubro de 2014

Carta à Urbon

Olá.
Bem, eu não sei como começar isso, como vai você? Espero que bem, ou melhor do que estava na última vez que nos falamos. Espero que não jogado, solitário, amargo.
Eu apenas queria jogar conversa fora, falar sobre música, astrologia, pessoas. Ouvir seus enormes discursos sobre a humanidade, no seu quarto extremamente sujo e desarrumado. Queria assistir o quanto fica empolgado quando finalmente pode fazer o que quer, quando tem o olhar maníaco e infantil. Eu queria parar de assistir o tempo passar, sem se quer saber se ainda bebe aquele chimarrão todos os dias e toca o seu violão, cantando paródias grotescas. Eu não sei, queria te parabenizar por mais um ano se mantendo vivo, passar um dia com você e finalmente matar as saudades que estão escondidas a tanto tempo.
Discutir sobre assuntos que concordamos, fingir esquecer que já discutimos aquele assunto centenas de vezes. É tão bom recordar a época que recordarmos estar sentados na rede, sentindo a pobre Vitória passando pelos nossos pés e ouvindo-a latir para o vento. 

O vento que levava tudo, menos essas lembranças boas que doem tanto.
Já éramos infelizes na época das ventanias, éramos infelizes juntos, porque não podíamos suportar separados. Eu não podia. Mas nunca tocávamos no assunto, nunca tivemos força pra tocar. E por isso eram tão boas as suas piadas, que tiravam os problemas do nosso caminho, então podíamos seguir, crianças saltitantes, esquecendo o quartel.
Eu ainda sou a pequena aprendiz irritante, querendo ouvir piadas e fugir do mundo no seu curioso quarto extremamente sujo e desarrumado. 
E acima de tudo, te salvar da terrível escuridão.

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